O cenário é devastador para o eleitorado de esquerda – não apenas para a composição parlamentar diminuída, mas também para o surgimento de um claro candidato ao direito radical do governo. Sou mãe, afro-descendente, tenho 37 anos e sou pesquisador acadêmico. Claramente, eu não sou alguém que se beneficia dessa nova geografia parlamentar. E essa opinião começa neste lugar em particular – um local de perda e desânimo, que eu imagino comum a muitas outras pessoas.
A ascensão da chegada, com um discurso populista, revela uma crescente apreciação de propostas que prometem soluções rápidas para problemas complexos. A desconfiança das instituições e o apelo a medidas punitivas e simplistas ressoam com uma parte significativa do eleitorado, refletindo uma profunda mudança nas expectativas sobre o que se espera de um governo.
Você Soundbitis Fácil e a ausência de trabalhos de pensamento estruturado em campanha – especialmente quando combinados com uma estratégia de vitimização do estilo bolonarista ou Trumpista, que tem sido eficaz.
O crescimento das forças políticas que promovem a idéia de que é aceitável “dar um caminho” legitima a cultura do “chico-sertismo”. Esse fenômeno nasce de desencanto com a política tradicional e a percepção de que interesses pessoais e agendas ocultas são norma.
Ficou claro que a falta de adequação do primeiro -ministro não incomoda muito do eleitorado. A estratégia de vitimização usada pela coalizão do AD resultou. O caso do negócio da família Spinumviva exemplifica essa promiscuidade. Embora Luís Montenegro tenha sido transferido para sua esposa, ele continuou a se beneficiar financeiramente, levantando dúvidas sobre conflitos de interesse e transparência.
O AD não enviou propostas de concreto para combater o racismo. Pelo contrário, defende políticas migratórias mais restritivas, aproximando -se da agenda da extrema direita. Essa abordagem colide com a urgência de políticas inclusivas em um país cada vez mais multicultural-e que precisa do trabalho para cumprir o PRR e responder às necessidades do mercado de trabalho (Ine, Censos 2021).
A idéia de superioridade de um “nós” diante dos “outros” que vêm trabalhar tem raízes profundas. Ele é herdeiro de um legado colonial paternalista que Portugal evita enfrentar o espaço público. Como escreve Elsa Peralta, “a política da invisibilidade de outros órgãos sempre foi eficaz na manutenção do conforto simbólico daqueles que pensam parte da norma”.
O Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) de 2024 alertou sobre o aumento de menores por grupos de extrema direita pela Internet. A exclusão deste parágrafo na versão final do relatório é simbólica e alinhada com uma nova realidade parlamentar, onde esses temas se tornam desconfortáveis (Rasi 2024, versão preliminar).
Paralelamente, Portugal demitido em pensamento e pesquisa críticos. Ao contrário de vários países europeus, não reforçou o financiamento e o desenvolvimento, revelando o desinteresse em áreas essenciais para o progresso e a cidadania crítica (Eurostat, 2023).
As eleições de 2025 refletem um país desfavorecido, procurando soluções imediatas e simplistas, sem políticas inclusivas, desinstaladas em áreas estruturais. Eu não me reviso nessas políticas. Estou claro o que não quero: um país desigual, que desvaloriza o estado social, recompensa o chico-especial e responde a interesses econômicos, não ao bem comum.
Como Gramsci disse: “O Velho Mundo morre, o novo atraso a nascer e, nesse interregno, surgem os monstros”.