segunda-feira, maio 26, 2025

Para meu avô Niemeyer, com carinho e saudade

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Aprendi com meu avô, Oscar Niemeyer (1907-2012), o Dindo-que foi como os netos chamavam-o de “a vida é uma respiração”. Eu tinha seis anos quando minha família deixou a cidade do Rio de Janeiro e fomos morar em Brasília, na capital recém -inaugurada, que este ano completou 65 anos

O Congresso Nacional do Brasil está sob forte pressão para aprovar um projeto de anistia que entregará condenados a partir de 8 de janeiro de 2023, o dia em que entrou na história como uma tentativa de golpear d’état, quando os criminosos são auto-intendidos “patrióticos” depreciados o Planalto Palace, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal (STF), projetado por Niemeyer.

As imagens do vandalismo e do terror foram registradas por criminosos e publicadas em tempo real em redes sociais, chocando o país e eu duplamente, como brasileiro e seu neto dele. Fui levado por um sentimento de revolta e, ao mesmo tempo, senti alívio por ele não estar mais aqui para ver esse ataque brutal à democracia e sua obra -prima.

Naquele momento, prestei juramento para continuar seu legado, especialmente seus ideais humanitários. Niemeyer era um democrata e lutou contra as desigualdades sociais. Ele ficou indignado ao ver a pobreza se multiplicar e disse que a arquitetura é injusta, servindo apenas os poderosos. É com essa responsabilidade que estou me dedicando a alguns projetos.

Uma é a produção de um livro de fotografia, juntamente com um show de viagem com as imagens de suas obras em Brasília, Pampulha, em Belo Horizonte (Minas Gerais) e Rio de Janeiro, além dos 10 modelos de seus projetos não publicados, que serão construídos em Maricá (RJ), municipais que ele gostava muito. Será um marco para esta cidade, porque, sendo um ícone mundial, suas obras atrairão turistas e aumentarão a economia local.

Neste domingo (25/05), estarei em Maricá para participar da abertura da exposição com esses modelos. Ele recebeu ligações afetivas com Maricá por causa de seu avô paterno, que morava nesta cidade, e era a terra natal de seu pai, Manuel Ribeiro de Almeida, que tinha uma fazenda lá. O próprio Niemeyer era dono da fazenda de bananais do centenário, que ainda existe hoje, que me dedica a fazer dela um museu.

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Eu estava acumulando memórias porque, por 54 anos (desde 1971. Quando o acompanhei, em seu exílio voluntário na França, durante o período da ditadura militar brasileira), trabalhei com ele em seu escritório em Paris. Naquela época, comecei a fotografar os modelos de seus projetos. Com isso, também aprendi o que é a fotografia de arquitetura, que começa com o conceito profissional para escolher o melhor ângulo para gravar.

Uma vez, em uma entrevista, um jornalista perguntou: “Oscar, o que é a vida?” Ele respondeu: “A vida é uma mulher do lado e o que Deus quiser”. Todo mundo riu. Então ele me comentou: “Sim, uma frase egoísta, se lembrarmos que há miséria, violência, injustiça, todo o mal que se multiplica em todos os lugares. Este era meu avô Oscar Niemeyer, meu inesquecível” Dindinho “.

Essa intensa família e coexistência profissional serviu ao meu avô, conte -me atrás das cenas durante a construção da Brasília. Foi em 1957 que o presidente Juscelino Kubistchek o procurou na casa dos Canoas – projetado por Niemeyer e hoje considerou uma jóia da arquitetura moderna – onde moramos no Rio. Eu queria construir Brasília e, como aconteceu com Pampulha, em Belo Horizonte (MG), na década de 1940, queria a colaboração de Niemeyer.

JK disse a ele que pretendia criar uma capital moderna, “a mais bonita do mundo”. Na primeira viagem que JK fez ao platô central, Niemeyer o acompanhou e não teve uma boa impressão do lugar: “Longe de tudo, um terreno vazio”. Mas o entusiasmo de JK e o objetivo de trazer progresso no centro do Brasil foram tão válidos para ele que ele acabou concordando. Na época, o ministro da Guerra, general Lott, perguntou: “Oscar, os edifícios do Exército serão modernos ou clássicos”. Ele respondeu: “Em uma guerra, você prefere armas modernas ou clássicas?” Os militares sorriram.

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Meu avô Niemeyer disse que não era fácil trabalhar na Brasília. O projeto do Congresso Nacional foi preparado sem uma idéia de como o número de parlamentares aumentaria. “Tudo rápido foi a palavra de ordem.” O projeto foi iniciado com ele indo para o Rio com o objetivo de dimensionar o Congresso da Capital Federal para, multiplicando a área estimada e os setores existentes, inicia os desenhos. Isso explica os edifícios anexados mais tarde construídos.

Quando eles impuseram o parlamentarismo para limitar os poderes do presidente João Goulart em 1961, o Congresso Hall estava coberto de novos quartos e escritórios, pedindo uma solução. Niemeyer queria defender a arquitetura do palácio, e o caminho era aumentar a largura em 15 metros. A visão da praça dos três poderes que revelou do antigo salão desapareceu, mas a arquitetura externa do palácio foi preservada com tanta força que ninguém percebe, mas ele, como arquiteto, lamentou toda a sua vida.

O primeiro projeto foi iniciado foi o Palácio de Alvorada, cuja localização ainda não estava consertada pelo plano piloto. Como tudo era urgente, Oscar caminhou pelo Cerrado, com a grama batendo os joelhos para procurar o melhor lugar. Outras memórias da família que me referem ao amanhecer são que minha mãe, a proprietária da galeria Anna Maria, sua única filha, decorou esse palácio e criou alguns móveis lá.

Posteriormente, ele e sua equipe estudaram o eixo monumental, iniciando o projeto pela TRÊs Powers Square, que incluía o Palácio Planalto, a Suprema Corte e o Congresso Nacional.

Defensor de educação

Outra causa que Oscar Niemeyer defendeu com paixão foi “terminar o especialista” – transformando o jovem que deixa a escola sem ler um livro, sem saber como escrever e falar bem português, preocupado apenas com os assuntos de sua profissão. Leve você à leitura, faça você entender esse mundo injusto que devemos modificar.

Sua preocupação aumentou quando, um dia, um grupo de estudantes estava em seu escritório e ele ouviu uma garota perguntar a um colega: “Você leu Eça de Queiroz?” E o outro perguntou: “Você é filho de Rachel de Queiroz?” Um diálogo para mostrar tanta ignorância que, a partir de então, Niemeyer já começou a considerar a urgência de intervir no processo de formação de jovens em nosso país.

Ele decidiu reservar quartas -feiras para promover reuniões com os alunos para explicar as razões de sua arquitetura e também falar sobre literatura, história, filosofia e arte. A primeira reunião ocorreu em 2009, com 70 alunos e sete professores da Escola da Escola da cidade, com sede na cidade de São Paulo. Desde o segundo, estudantes e professores pertencentes à Universidade de Brasília (UNB) participaram. O terceiro foi realizado no caminho de Niemeyer, no município de Niterói (RJ).

Ele era um trabalhador incansável e atingiu um ponto diário em seu escritório em Copacabana, até os 104 anos, quando nos deixou. Eu não gostava de viajar de avião. E quando alguém sugeriu que ele tirasse férias e fizesse um cruzeiro transatlântico, ele sempre dizia que “ele não repetiria essa experiência porque não tinha sido bom”. Ele viajou de navio para Portugal com amigos e, por 11 dias, desfrutou de bons momentos na piscina e depois os bares e cafés. Mas, de acordo com ele, confessou, as conversas a bordo nem sempre são agradáveis.

Ele se lembrou do dia em que o navio parou em Lisboa e eles continuaram olhando na televisão que os jovens portugueses lavavam as estátuas de uma praça, felizes com a queda do salzarismo. E algumas lisbonotas, pessoas ricas, sentadas ao lado dela, não contendo, começaram a gritar: “É uma loucura, eles são loucos”. O que o forçou a intervir: “Crazy, nada, é a queda da ditadura, e isso um dia acontecerá em todo o mundo”.

Quem diria que em 2023, a democracia brasileira seria atacada por uma infinidade de vândalos? Portanto, me pergunto o que meu avô Oscar Niemeyer diria ao assistir as imagens dos golpistas, depreedando os trabalhos que ele projetou com tanto entusiasmo e amor ao Brasil.

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