A entrevista
Criador de conteúdo, evangelizadores, influenciadores: a igreja reconhece o valor daqueles que trazem o evangelho para as redes sociais com uma reunião de dois dias
Por Silvia Martelli
O primeiro jubileu de missionários digitais será realizado no Vaticano em 28 e 29 de julho, uma reunião internacional promovida pelo DiCastery for Communication que reunirá influenciadores católicos, evangelizadores on -line, criadores de conteúdo e operadores de comunicação digital de todo o mundo. O objetivo? Reconheça, aprimore e acompanhe uma realidade já viva e operacional nas redes sociais e na web, onde centenas de mulheres e homens anunciam o evangelho todos os dias com novos idiomas, nos mais diversos contextos da rede.
Nesta entrevista, o padre Lucio Ruiz, secretário do Dicastery para a comunicação da Santa Sé, explica o significado da iniciativa e reflete sobre a relação entre a igreja e a cultura digital: desde as oportunidades de rede até os riscos a serem abordados, a passagem da formação de missionários digitais, o papel da inteligência artificial e do desafio de manter a mensagem evangelicana também.
Pai, o que significa hoje ser missionário digital no contexto da igreja?
Significa exatamente o que sempre significou ser missionário na igreja: trazer a alegria e a esperança de Jesus para aqueles que ainda não conhecem ou a esqueceram. Hoje, este anúncio também passa por novos ambientes, como o digital. Ser missionários digitais, portanto, significa continuar a mesma missão, mas dentro da cultura contemporânea. Não é uma invenção recente: é uma evolução natural.
Portanto, o digital não é mais visto apenas como um “mundo virtual”, mas como uma realidade totalmente habitada?
Certamente. Não é uma ferramenta externa à vida real: é um ambiente cultural onde as pessoas vivem, trabalham, se relacionam. É uma vida plena e, como tal, também deve ser habitada pela Igreja.
Como o Jubileu se encaixa nesse caminho espiritual e comunicativo? É um evento simbólico ou marca o início de algo mais estruturado e duradouro?
O Jubileu não representa um ponto de partida, mas o resultado de um caminho já iniciado. Nasceu de uma consciência que surgiu também no Sínodo: Lá, os Pais do Sínodo reconheceram a existência de uma missão digital já viva por anos. Há pessoas que estão operando na rede para evangelizar há mais de uma década. Como igreja institucional, percebemos a riqueza dessa presença. O Jubileu é um momento para reconhecê -lo, acompanhá -la, agradecer, criar comunhão. É um processo que queremos apoiar e crescer.
Quais ferramentas ou plataformas você acha que a prioridade hoje atinge acima de tudo o mais jovem público?
Não existe uma plataforma “oficial” ou um canal prioritário. Este não é um plano centralizado. Os missionários digitais já estão presentes em todos os lugares: cada um com sua própria criatividade, sua linguagem, sua cultura. É diferente falar com um jovem do Extremo Oriente em comparação com um do oeste. A missão está incorporada na realidade, e essa realidade é multifacetada. Além disso, não deve ser confundido com a única atividade nas redes sociais: o mundo digital inclui muitas formas de comunicação. Alguns me perguntam: “Quantos seguidores eles têm?”. Mas isso não é isso. Não é uma reunião de influenciador, mas um reconhecimento de todos aqueles que, em digital, trazem um anúncio de esperança, geralmente de uma maneira silenciosa e profunda.
Existem formas de treinamento para esses missionários digitais, para ajudá -los a integrar habilidades de fé e comunicação?
Sim, e é um aspecto muito importante. Nos últimos três anos, um grande movimento foi aberto. Conferências episcopais, dioceses, instituições organizaram cursos, conferências, reuniões. Por exemplo, na África, formamos 400 missionários digitais, na América Latina, mais de 450. Alguns bispos nomearam gerentes pastorais digitais. Há uma grande variedade de iniciativas, que testemunha o quanto essa realidade está viva e sentida.
O mundo digital oferece muitas oportunidades, mas também riscos. Quais são as principais questões críticas a enfrentar?
A própria vida é um risco. Não há nada – desde o nascimento até a pedal, do Amare ao trabalho – que não implica riscos. O digital também envolve perigos, é claro. Mas não para isso, deve ser evitado. Pelo contrário: requer uma presença ainda mais cuidadosa, uma formação sólida, um acompanhamento constante. Somente dessa maneira podemos distinguir o que é bom para o que dói.
A inteligência artificial está entre essas ferramentas potencialmente perigosas, ou também pode ser um recurso para a igreja?
A inteligência artificial é certamente uma ferramenta, mas não é neutra. Não basta dizer “você pode usar o bem ou o mal”: você precisa ver como ele é construído. É uma realidade criada pelo homem, por isso pode ser bom ou ruim, pois a origem. Por esse motivo, a igreja deve estar presente imediatamente: com pensamento, treinamento, com universidades. Somente dessa maneira podemos orientar seu desenvolvimento ético e humanamente. Nossa ausência, pelo contrário, deixa espaço para outros valores, nem sempre bons.
A igreja já está usando inteligência artificial de maneira concreta?
A igreja sempre esteve presente nos processos culturais. Não existe um projeto “oficial”, mas já existem professores, estudiosos, especialistas que trabalham no campo. Nascemos com a cultura da mídia: a tipografia do Vaticano tem mais de 500 anos, a rádio do Vaticano nasceu com Marconi, nosso escritório de internet remonta a 1992, simultaneamente com o nascimento da web. A igreja caminha junto com a história.
Em um contexto digital em que tudo é fragmentado, rápido, condicionado por algoritmos, como a autenticidade da mensagem evangélica pode ser mantida?
É uma bela pergunta. A mensagem evangélica não termina em uma postagem ou vídeo: essas ferramentas oferecem uma primeira faísca, uma reunião, uma palavra que pode tocar o coração no momento certo. Mas não é uma missão “realizada”. É apenas o começo de uma jornada que deve ser apoiada pela comunidade. A verdadeira evangelização é o trabalho da igreja como um todo, não do influenciador ou sacerdote individual. Um liga a faísca, o outro revive a chama. O digital serve para chegar lá onde ninguém chega, talvez no momento mais difícil da vida, e coloque uma semente de esperança.
Há quem diga que uma religião “virtual” não é autêntica. O que você acha disso?
Eu gosto de fazer uma comparação. Quando duas pessoas estão apaixonadas, elas sabem bem que um abraço é melhor do que uma videochamada. Mas quando eles não podem ficar juntos, essa videochamada é muito preciosa. Não há necessidade de explicar o valor do contato humano: você sente. Mas precisamente porque adora, o digital também se torna um instrumento de reunião. Não se trata de comparar a “presença” e “virtual” como se fossem opostas: é amor e aproveitar as oportunidades de amar também através do que não estava lá antes.
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