Preocupados com a insegurança e a possibilidade de escassez de mercadorias, muitos luandianos procuraram nesta terça -feira fornecer nas poucas lojas ainda se abrirem, temendo as incertezas dos próximos dias.
No segundo dia dos motoristas de táxi chamados – que degeneraram em protestos violentos, atos de vandalismo e pilhas – populares ouvidos por Lusa na capital angolana expressaram temores de instabilidade e condenaram os distúrbios, mas reconhecem que há razões para protestos, que atribuem acima de toda a piora da vida.
“As pessoas pensam com a barriga, não pensam com a cabeça”, disse Feliciano Lussati, um jovem professor residente na área de Benfica, do lado de fora de uma pequena cantina (supermercado local) onde ele conseguiu comprar pão.
“A situação no país é caótica, é precária e as coisas estão sempre aumentando. O salário é quase a semelhança”, disse ele, justificando a legitimidade da greve dos motoristas de táxi.
Para Feliciano, a violência que se seguiu “tem a ver com a fome. Aqueles que estão com fome não pensam nas consequências”, porque os problemas socioeconômicos do país fazem com que “as pessoas não pensem em suas cabeças, pensem em sua barriga”.
“Se veremos o que estamos assistindo nas redes sociais, as pessoas são mais vandalizando shopping centers, pegando comida, certo? Então, não acho que a fome não estaria lá para invadir uma loja particular para tirar dividendos ou aproveitar isso, certo?
Embora em seu bairro a situação estivesse calma, Feliciano passou esses dois dias em casa, atento às redes sociais, enquanto ouvia o barulho à distância.
“Fui comprar pão porque temos que nos impedir”, disse ele, admitindo estar preocupado com os efeitos da greve.
Na sua opinião, o resultado dependerá da capacidade do executivo de responder.
“O governo precisa saber como dialogar, tomar suas próprias medidas e fazer um esforço para apaziguar a situação e há consenso, porque se a situação continuar dessa maneira, infelizmente teremos mais situações preocupantes e a coisa será feia a cada ano, a cada dia que passa”, disse ele.
A capital de Angola acordou na terça -feira ainda marcada pela tensão do dia anterior. Bombas de combustível fechadas protegidas pelas forças de segurança, táxis encostados em recipientes de lixo improvisados e homens armados – para a paisagem – circulando em alguns bairros marcaram a paisagem.
Na zona comercial de São Paulo, geralmente fervendo, dificilmente era comércio aberto. Apenas alguns ‘zungemiras’ (vendedores ambulantes) carregavam toques com água ou frutas. Maria, também vendedora de rua, moradora do bairro mundial (Benfica), reclamou com Lusa da falta de clientes.
“Hoje não há clientes. Por causa do táxi que não está circulando”, disse a vendedora que veio a pé.
No dia anterior, a vida “foi realmente difícil … não havia nada para comer. E eu realmente consegui hoje”, diz ele.
Em relação aos protestos, cujas causas disseram que ele não tinha conhecimento, Mary apenas disse que viu “ataques a supermercados” na televisão.
As marcas de destruição ainda eram visíveis hoje em várias áreas: armazéns com vidro quebrado, traços de lixo queimados no asfalto, ruas sem mototaxis ou azul e branco típicos.
No marginal de Luanda, o vazio contrasta com o movimento usual. No Samba, o tráfego intenso foi substituído pelo silêncio apenas interrompido por espaços que passavam espaço.
O Trader Moisés Francisco decidiu hoje manter sua cantina, padaria e farmácia parcialmente abertas – o “MAF” – apesar do medo. “De manhã, aqui estava bastante cheio. Havia muitas pessoas procurando pão, porque encontraram as lojas fechadas”, disse ele. Com medo de tumultos, ele finalmente suspendeu o serviço que apenas reiniciou porque “o bairro estava chorando”.
No dia anterior “eles não podiam comprar pão”, ele justificou.
Para Moisés, a parada foi fundada. “A greve foi por causa do aumento de combustíveis. Pode ser a razão, sim. Mas não é motivo para fazer pilha”, criticou. “Eles também estão sofrendo [os comerciantes]eles não podem prosperar. Este é um revés, lamentado.
A parada dos motoristas de táxi foi convocada após o aumento do preço do combustível.
O protesto, que seria pacífico, rapidamente degenerou em violência em várias áreas de Luanda, com lojas saqueadas, transporte paralisado, barricadas em estradas e relatos de mortes e feridos.
As autoridades angolanas confirmaram a existência de quatro mortos e já detiveram mais de 500 pessoas. LUSA