Chamamos o associativismo para algo que, em muitas escolas secundárias, tem pouca participação e muito ritual vazio. O que deve ser uma ferramenta de democracia na prática tornou -se com muita frequência em uma caricatura: festas, rivalidades desnecessárias, marketing de ocasião e folclore puro. Falamos sobre a importância de envolver os jovens, mas esquecemos de olhar com os olhos para ver na maneira como esse envolvimento está sendo feito.
Não é uma questão de atacar quem participa, mas apontar uma cultura instalada e profundamente permissiva, onde a ausência de impacto e responsabilidade normalizou. Onde os representantes dos alunos são frequentemente eleitos em um concurso popular, sem idéias claras, sem projetos reais, sem compromisso com os problemas da escola ou da comunidade educacional. As associações de estudantes (EA) podem ser e, em alguns casos, ainda são espaços para discussão política, cidadania ativa, construção de soluções. Mas o que é frequentemente observado é sua transformação em uma recreação: partidos temáticos, torneios irrelevantes e administração que dizem aos alunos pouco ou nada sobre seu papel como cidadãos. É isso que resta quando o sistema institucional não funciona – ou pior, quando é desencorajado.
Começando com a própria lei. A estrutura legal do associativo juvenil é arcaica e excessivamente burocrática. Em vez de facilitar a criação da AES, torna -o um labirinto de papelada, formalismos e exigências que a maioria das escolas e alunos não tenha meios para cumprir. Falamos sobre minutos autenticados, certificados notariais, conservatórios, publicação de estatutos em Diário da República, entre outros. Para adolescentes do ensino básico e secundário, este é um pesadelo administrativo.
O resultado está à vista: entre quase 1.000 escolas de ensino fundamental e médio, apenas 23 associações de estudantes estão legalmente registradas no registro nacional do associativismo juvenil. Eu reitero: vinte e três. Esse número não é apenas revelador, é um diagnóstico e deve ter vergonha. Porque por trás dessa estatística não é o desinteresse dos jovens, mas a ausência de um ecossistema funcional. Ultimamente, a iniciativa é necessária, mas há meios claros. Fala -se de cidadania ativa no meio de obstáculos burocráticos.
Como podemos esperar que um aluno se sinta motivado a se inscrever com idéias estruturadas, quando sabe que o que mobiliza os votos é quase sempre o artista que a lista traz para a escola, ou o famoso que apóia a lista? Como podemos falar sobre educação para a democracia se várias agências escolares tentarem limitar a participação efetiva dos EAs em decisões relevantes? Como o associativismo pode cumprir sua missão, se for, da raiz, uma construção frágil, pouco acompanhada e sem incentivos?
O associativismo estudantil não pode permanecer decoração. Não é um trampolim para egos, currículos ou popularidades Fast food. Tem que ser um espaço para o aprendizado, demanda e transformação democráticos. E isso requer coragem. Requer revisão de práticas, alterações de leis, simplificação de processos, investimentos em treinamento e retorno um papel verdadeiro na vida cotidiana das escolas.
Portanto, é imperativo defender um associativo juvenil exigente, intervencionista e real. Um associativismo que questiona, propondo, que mobiliza. Quem fala de política, meio ambiente, saúde mental, transporte, futuro. Que seja uma escola fora da escola, mas esteja dentro dela em uma voz ativa. Que sejam mais do que partes e mais do que vaidade.
É hora de fazer perguntas desconfortáveis. Perceber se os AES estão cumprindo seu propósito. Reconhecer que em muitos casos não são. E ter a ousadia de repensar o modelo antes que ele se torne irrelevante. Porque a democracia é aprendida e a escola deve ser o primeiro lugar onde isso acontece.