sábado, maio 24, 2025

O coração ainda bate. Um sentido proibido

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Ele é um homem claro claro com qualquer cortina que os torne opaca. Talvez seja a mesma idade que eu. As intermitências da vida não deixam os anos que foram vividos à margem. Está sentado no banco de madeira. Passo, mas estou com pressa. Eu te digo que agora não posso. Fique quieto como a aparência. Quando volto, ele está lá e não estou mais com pressa. Levante -se e peça para falar comigo. Ele diz que precisa de ajuda para pagar a sala. Existem pulseiras de contas e roupas que têm sido novas, mas agora são arranhadas. Como o visual. Os olhos também gastam em tristeza. Eu vou à carteira e te dou uma nota. Uma nota de simpatia, que não me tornará mais pobre e, para ele não estará na sala, acho que imediatamente lhe trará um momento de prazer solúvel. Talvez o visual de momentos seja iluminado. Quero me dar dois beijos. Eu rio e digo adeus. Eu o vejo correndo com a nota. Pressione que comprará álcool, cigarros? Eu não sei bem. Nem isso me deixou desconfortável. Sempre fica lá. Talvez não exatamente naquele banco, mas sempre naquele lado da rua, onde o sol bate naquela hora. Não sei se a desgraça da vida o pegou desprotegida e se rendeu sem reservas ao banco do jardim, se ele quisesse viver longe de tudo e saber uma forma estranha de liberdade. Essa liberdade é de uma coragem corajosa irracional.

Uma noite, tirada por um amigo, na distribuição de alimentos pela cidade sem horas, acabei em um lugar sem nome onde homens (não vi mulheres deste lado) dormiam sob vagões. Parecia um filme de Kusturika, onde as fogueiras aqueceram rostos e mãos e o fogo vamos ver as veias da fome, o frio, as noites claras. Um desses homens, Madeiranse, me contou sobre sua filha com emprego estável-eu não sei agora o que me dissemos, ele faz parte de sua vida-mas ele me disse o que não esquece: “eu moro na rua porque quero ser livre”. O impacto dessa frase foi tão forte quanto ver um pai que, vestido impecavelmente, pediu mais leite para sua filha, com ela pela mão. Eles eram pessoas em casa, mas sem comida. Ele pode ter um emprego, mas nenhum dinheiro que veio a tudo. Ela talvez na escola, sem que alguém suspeite que o dia terminaria, lá, na estação, para receber comida.

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Em outra temporada, do outro lado da cidade, homens e mulheres dormiam um sono profundo, coberto por cobertores que nem sempre alcançaram seus pés. O silêncio foi ótimo na ponta com um dedão. Com o que as pessoas que não têm combustível para a esperança sonham?

No retorno daquela noite, cheios de rostos, histórias e sonhos de realizar, ecoaram em mim a frase do homem que queria ser livre e morava entre vagões e calor forte. Um estalido que marcou a bússola da vida.

Nada mudou em mim. Acabei de perceber que tinha que continuar olhando. Às vezes parando. Como com esse homem que, à luz do dia, pede ajuda para pagar a sala. Talvez não seja a sala, mas eu dou. Às vezes, basta atravessar a rua errada, para que a vida nos leve por um sentido proibido. Becos mortos.

Não sei se eles vivem com a mesma impressão que eu, mas muitas vezes acho que a vida é um segundo para nos falhar. A vida nos sacode para sites improváveis.

O homem, no banco do jardim, aproveite o sol da hora do almoço. Talvez você tenha ido ao supermercado comprar uma garrafa de vinho. Eu não o condeno. Afinal, quem somos condenamos as escolhas ou a falta de sorte dos outros?

Homens e mulheres com família podem acabar no banco do jardim. A vida é uma equação que não dá o mesmo resultado a todos. Foi bom lembrarmos disso, em vez de ter a condenação na boca.

O coração ainda bate.

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